Indumentária

terça-feira, 19 de março de 2013



O curioso cutucar
E apenas um questionar
De uma criança ao imaginar
~
"-Querida mãe, responda.
O que são estes chapéus com ponta?
-Querida mãe, responde.
O que são estas saias galantes?
- Oh, mãe, respondas:
Quem são estas pessoas?"
~
São herdeiros de um tempo perdido
Do físico no presente
Com um coração partido
Recluso num passado ausente.


O Regressar





A vila ainda está entorpecida
Saudosa e formosa diante de todos

~
O luar não é o real motivo de sua serenidade
E sim o parar de uma estação
Tomada pelo espesso véu a acalmar;
Os trens a enferrujar,
E o silêncio a reinar.

~
Com um simples regressar
Sentisse o vapor a exalar,
Os carvões a queimar,
E as caldeiras a funcionar.



Conto: Rosas Engrenadas


     
 O trem afoito apitou. Era hora de partir. As malas já haviam sido guardadas no vagão, e eu deveria embarcar.
      Entrei e me sentei antes que o trem partisse. Abaixei a janela, e com um sinal de adeus lancei o lenço branco em minha mão, sacudindo-o. Com os segundos seus pais desapareciam da estação distante.
      Meu destino era um colégio para moças numa cidade distante. Meus pais faziam questão que eu aprendesse como me portar na sociedade, como ser uma dama perfeita.
     As paisagens à frente se formavam e depois sumiam de meus olhos. À medida que o tempo passava, o inicio daquele livro grosso se tornava mais interessante. Era um romance policial. Até o trem chegar ao meu destino, já tivera passado por diversas estações, sendo que o horário que partira era manha e por hora era quase noite.
     O trem seguiu seu caminho deixando apenas eu, minhas malas e a solidão. Sentia-me completamente perdida. Não havia ninguém que viera me buscar. Minhas mãos apenas seguravam um papel que continha o endereço da escola.
     A mala pesava, mas caminhei sem reclamar pela estação. Um pouco de suor começou a contagiar meu rosto, precisava respirar um pouco. Parei a frente de uma praça. Algumas pessoas conversavam em rodas, outras estavam a passeio, e distante de mim do outro lado havia uma tenda, onde alguém vendia algo. Não conseguia ver direito, além de estar longe de mim, uma árvore imensa estava no caminho.
   Precisava ver o que era vendido ali. Peguei a mala ostensiva, e caminhei o mais rápido que pude. Com a minha aproximação pude notar que a tenda estava coberta de rosas engrenadas e um jovem homem as vendia.
- Boa noite senhorita.
Não respondi. Não porque era grossa, mas porque o ar me faltava. Ele me observava tentando ler meus pensamentos confusos.
- Gostaria de lhe oferecer essa rosa – disse ele, pegando-a e trazendo a mim.
   Não existia maldade em seus olhos, mas sim doçura. Ele parecia ser gentil e meigo. A rosa que ele segurava estava murcha e sem cor, com suas engrenagens enferrujadas. Porque ele me oferecia aquela rosa?? Sendo que haviam outras muito mais belas. Não fazia sentido, e eu também não desprezaria o seu mau gosto.
   Joguei a mala no chão. Tirei a luva branca para que não sujasse. A partir do momento que eu segurei a rosa, num espaço muito curto de tempo, ela foi retornando a vida, fazendo o vermelho cintilante ressurgir. Quanto as engrenagens cheias de ferrugem, voltaram a circular como se nunca tivessem parado.
   Ninguém ria, ninguém falava. Todos na praça estavam parados. Talvez alguns estivessem aterrorizados, mas não era um sentimento compartilhado por todos. Até que alguém gritou:
- A maldição foi quebrada!
Que maldição seria aquela? De que estavam falando? Indaguei mentalmente aturdida.
- Há muitas gerações passadas, foi jogada uma praga sobre minha família. Nós nunca veríamos as cores do mundo enquanto não deixássemos de lado a avareza. O tempo foi passando, e nenhum dos meus antepassados que se encontram mortos preferiram ver as cores do mundo á perder suas riquezas, ganhas de modo sujo. Quem conseguisse fazer essa rosa voltar a funcionar traria consigo a paz para meu coração e o mundo se faria em cores. Obrigado por finalmente aparecer para mim.
   Sim, a maldição foi desfeita. O nobre vendedor de flores engrenadas pode desposar de mim. Com o tempo criamos nossa própria riqueza de forma honesta. Mesmo que o tempo tenha passado e hoje esteja coberta pelas marcas da velhice ainda guardamos a temerosa rosa, para que nunca esqueçamos do passado e a maldição das cores não vistas.